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Falar de racismo estrutural no Brasil, na maioria das vezes, vem acompanhado de frases como “isso é mimimi” ou “não fui eu que escravizei ninguém”, o que fortalece uma sociedade que alimenta formas de silenciar a voz da população negra que, por conta dessa realidade, também sofre impactos na saúde mental.
Que a população negra tem lutado, há séculos, pela igualdade de direitos é histórico, mas conviver com sentimentos que dissociam as pessoas negras da valorização, do pertencimento e das conquistas reverbera negativamente em jovens negros do sexo masculino com idades entre 10 e 29 anos que, segundo uma pesquisa do Ministério da Saúde publicada em 2018, tem 45% de chance a mais do que jovens brancos na mesma faixa etária de cometer suicídio.
Pesquisadores entendem que esse percentual maior entre jovens negros tem forte relação com o sofrimento psíquico causado também pelo racismo estrutural.
A Organização Mundial da Saúde – OMS revela que o Brasil é o país com maior prevalência de ansiedade no mundo. Quanto à depressão fica em segundo lugar no ranking das Américas.
Os números de casos de ansiedade e depressão na população em geral não tem prevalência de raça. No entanto, casos desses transtornos na população negra pode ter como gatilho o estresse e os traumas provocados por episódios acumulados e vivenciados de racismo.
Racismo estrutural
A definição de racismo estrutural é mais compreensível quando são citados exemplos na prática porque, na teoria, é quando o preconceito e a discriminação estão consolidados na organização da sociedade.
Pois bem, muitos ao lerem esse conceito vão dizer “mas eu nunca fui racista”, porém, por vezes, essa frase vem acompanhada de outra que é fruto do racismo estrutural “eu até tenho amigos negros”.
O “até” usado na frase dá a conotação de se permitir ter amigos negros como se isso fosse uma atitude de exceção porque não é normal ter pessoas próximas da raça negra. Isso geralmente acontece porque o declarante entende a sociedade como se os negros ainda estivessem na situação de serviçais e, por isso ele, branco, deixa que alguns estejam a seu lado, se colocando numa posição de superioridade.
A causa provável que alimenta o racismo estrutural é o fato da história do Brasil não ser devidamente contada. Os verdadeiros heróis negros serem deixados a margem.
A violência sofrida nos 300 anos de escravidão é revivida ainda hoje nos assassinatos de jovens negros nas periferias das cidades, sem nem ao menos serem identificados ou nos casos de violência sexual contra mulheres negras que vem desde do tempo do Brasil colônia, quando os senhores brancos violentaram as escravas diuturnamente.
Viver numa sociedade de negação da população negra tem por consequência o racismo estrutural e, parte das pessoas negras sofrem manifestando transtornos psicológicos.
Saúde mental negra
Outra máxima da rotina do racismo estrutural brasileiro é “mas o negro tem preconceito pelo próprio negro”. A pergunta é: porque não teria, se o negro é parte de uma população que nega, a todo instante, o valor, o poder e a beleza de ser negro?
O preconceito e o racismo perpassam a população em geral e as pessoas negras não estão isentas de perder a identidade numa sociedade que reforça padrões brancos para tudo.
Além do suicídio e da alta probabilidade de suicídio afetar jovens negros, as mulheres negras também enfrentam alta taxa de casos de depressão. Logicamente que existem fatores como a genética que contribuem para a manifestação da doença. No entanto, pesquisas revelam que as mulheres negras sofrem alto risco de transtorno depressivo por conta de situações de discriminação racial e de gênero.
Por tudo isso, o Dia Internacional contra a Discriminação Racial no Brasil tem o dever de reforçar a pauta que reafirma a necessidade de criar novos paradigmas de conhecimento histórico, político e cultural da população negra, de forma efetiva para que estremeça os alicerces que sustentam o racismo estrutural no país.
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